Há 15 novos inquilinos na escola de startup do UPTEC
Estão em fases diversas, mas andam à procura do mesmo, apoio para crescer, os quinze novos projectos admitidos na escola de startup do Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, o UPTEC. Os novos inquilinos de vários espaços deste organismo da UP estão a desenvolver, ou já a produzir, skates de três rodas em cortiça reciclada, equipamentos para produção agrícola em ambiente urbano e soluções tecnológicas que permitem aproveitar a energia desperdiçada para alimentar equipamentos como sensores, e durante seis meses vão tentar ganhar músculo para resistirem às dificuldades dos primeiros tempos de qualquer jovem empresa.
Clara Gonçalves, directora-executiva do UPTEC, admite que, em cinco anos que esta estrutura leva de acolhimento, pré-incubação e incubação de novos projectos, cerca de 70%, de um total de mais de 120, ainda estejam vivos. O que não quer dizer que sobrevivam, dado que meia década é muito pouco em empresas deste tipo, dependentes não apenas da qualidade da inovação, mas também da capacidade de fazer o encontro entre o seu produto (bem ou serviço), e o mercado. Que raramente é nacional, apenas. A responsável pelo parque lembra que a literatura internacional sobre startup aponta para uma taxa de “sobrevivência” de dez por cento.
Isso não assusta os muitos candidatos a desenvolver uma ideia. Clara Gonçalves revela que a dada altura, a Uptec chegou a receber 120 candidaturas em três meses. Com este sistema de duas chamadas anuais, que oferece seis meses em ambiente de pré-incubação, têm sido escolhidos, em média, 23 projectos de cada vez. Desta feita o número foi reduzido para 15 para que cada elemento da equipa do parque – que vai perder um colaborador – possa acompanhar devidamente os projectos de que se torna tutor.
Este ano, estes terão de dar ajuda a projectos de vídeo-difusão; de estratégias transmedia para a promoção de artistas; aplicações para surf e agricultura; jogos sociais; reconstituição digital de património; engenharia e design e até lençóis biodegradáveis. Os jovens empresários ou candidatos a tal irão trabalhar na definição do modelo de negócio, identificação de clientes e mercados, melhoria de processos de design e desenvolvimento de produto, compreensão da propriedade intelectual, gestão de equipas, oportunidades de financiamento, aspectos legais e financeiras, vendas e comunicação dos seus projectos empresariais. E recebem apoio de empresas que já estão no UPTEC há algum tempo, e que já passaram pelos problemas que esta fase inicial levanta.
João Ventura, fundador da InanoE, acredita que essa partilha de experiências, que no seu caso acontecerá com a Healthy Road, pode ser muito útil, dado que a InanoE ainda nem sequer desenvolveu uma matriz de negócio. Este projecto, criado por cinco pessoas com formação na área da física, engenharia física e engenharia de materiais pretende desenvolver sistemas que aproveitam energia desperdiçada em electricidade capaz de sustentar o funcionamento, com autonomia, de vários produtos. Uma das suas apostas é a produção de sensores para monitorizar sistemas de abastecimento de água que possam funcionar, e enviar dados, com recurso à energia que o movimento da água produz nas canalizações.
Os seus mentores, os fundadores da Healthy Road, já percorreram uma parte da estrada, e podem ajudar a equipa de João Ventura no desenho do produto, em estratégias de contacto com o mercado e noutros aspectos iniciais a estes primeiros tempos de vida de um potencial negócio. A empresa que está instalada no UPTEC, na Asprela, está a testar e a vender o seu primeiro produto, o sistema Healthy Drive – que monitoriza o estado de saúde, a fadiga, a sonolência, de condutores – no Chile e no Brasil, para onde tem enviado, e continua a enviar equipas comerciais.
Ricardo Marques está noutra onda. A das pranchas de Surf ecológicas, para onde se está a virar, depois de ter começado um projecto de construção de skates em cortiça. A Bio Boards já vende, já alargou o negócio a roupas em materiais ecológicos, mas o seu fundador, que entretanto alargou a equipa a meia dúzia de pessoas, percebe que a rede de contactos e a partilha de experiências do UPTEC, lhe vai ser útil para encontrar um ponto de equilíbrio para o seu projecto. Que, como outros, pode vir a beneficiar, a seguir, de financiamento de capital de risco para fazer face às ondas que ainda terá de dominar, para não “morrer na praia”.
Notícia publicada no Público.
WeStoreOnTex. E se a t-shirt que tem vestida recarregasse a bateria do telemóvel?
Imagine que, durante a corrida matinal, o seu smartphone fica sem bateria e deixa de poder ouvir a música que lhe marca o ritmo ou utilizar a app que monitoriza o seu exercício físico. E se o tecido da t-shirt que tem vestida fosse capaz de recarregar a bateria do seu telemóvel? É o que acontece quando se junta química, física, nanotecnologia e têxteis (ao empreendedorismo e gestão) numa tecnologia que chega do Norte, tradicionalmente ligado à indústria têxtil, e que permite o armazenamento de energia para alimentar dispositivos eletrónicos e sensores integrados na roupa.
Clara Pereira, 36 anos, André Pereira, 38, e Rui Costa, 26, estão por detrás da criação destes têxteis funcionais inteligentes que estão a ser desenvolvidos na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). A WeStoreOnTex venceu, na semana passada, entre 17 projetos a concurso, o Pitch Day da Escola de Startups, iniciativa promovida pelo Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC).
É mesmo como uma bateria. É a mesma coisa que termos um telemóvel em cima da nossa roupa. Esse tecido seria capaz de alimentar esse telemóvel”, explica André Pereira, ao Observador.
O projeto começou há dois anos e meio, quando os investigadores começaram a estudar como seria possível modificar um tecido para conseguir armazenar energia. No ano seguinte, Rui Costa iniciou a tese de mestrado e integrou a equipa, numa altura em que conseguiram começar a fabricar estes dispositivos que armazenam energia no próprio têxtil. Neste momento, estão a ser trabalhados no setor do desporto, atividade física e bem-estar. Estima-se que, em 2020, este mercado atingirá os 1.500 milhões de euros em vendas, representando 17% do mercado global dos têxteis eletrónicos.
"Atualmente, os sensores de monitorização do ritmo cardíaco, que são integrados nas próprias peças de vestuário, ainda são alimentados por pilhas e baterias. As baterias têm problemas como a rigidez e demoram muito tempo a carregar. Um desportista que tem os timings todos contados para começar a sua atividade física não tem tempo para esperar que os dispositivos integrados no têxtil carreguem”, explica Clara Pereira.
O desafio passava, assim, por apresentar uma solução de armazenamento de energia em têxtil mais confortável, flexível, duradoura, segura e com maior rapidez de carregamento. Para isso, os três investigadores conseguiram substituir as pilhas por baterias no próprio tecido, sem dispositivos plásticos e fios para fazer contactos com os sensores e sem haver um “bloco rígido” na peça de vestuário, tornando-a “flexível e confortável” para o utilizador.
Ao mesmo tempo, os investigadores dispensaram o uso de lítio, presente na maioria das baterias, reduzindo o risco de ignição (estamos fartos de baterias que explodem, não é?)
"É como se fosse uma bateria normal mas não tem a tecnologia da bateria. Tem muito mais benefícios: o carregamento é mais rápido, o tecido é mais flexível e tem uma longevidade maior, ou seja, não fica viciada como as tradicionais baterias”, explica André Pereira.
A duração da bateria ronda, neste momento, os 30 a 40 minutos, “dependendo do tipo de energia que é necessária”, nota o investigador. Mas, adianta, está já a ser estudado o aumento do tempo de duração da bateria, que “dentro de algum tempo poderá aguentar horas”.
Neste momento, a WeStoreOnTex ainda não está formalmente constituída como empresa, mas tem estabelecido contactos com empresas de comercialização de têxteis (t-shirts e braçadeiras, por exemplo) e acessórios de monitorização de batimento cardíaco e respiração que poderão integrar a tecnologia desenvolvida pelos investigadores.
"Estamos em contacto com outras empresas da área têxtil e de acessórios para fazer a validação final do nosso produto para depois poder pensar em lançar a empresa. Estamos a tentar usar os processos que são utilizados na indústria têxtil para poder fabricar estes dispositivos. Neste momento, não podemos estar a produzir um têxtil de uma forma que só possa ser feita num laboratório. Temos de nos adaptar às condições que existem na indústria têxtil”, nota Clara.
Estão, neste momento, a colaborar com o Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal (CITEVE) para perceber o tipo de equipamento e a forma como podem modificar o tecido, de acordo com o que a indústria têxtil permite.
André acredita que, numa primeira fase, a tecnologia será integrada em “produtos de exclusividade”, para praticantes de desporto do mais alto nível. Mas posteriormente, “dependendo da aceitação”, poderá ficar acessível ao cidadão comum. “O processo é sempre assim. Primeiro, a exclusividade a alto preço, depois começa a baixar (como nos telemóveis), até que daqui a 5, 6 anos, poderá estar acessível a todas as pessoas”, considera.
O projeto é financiado pelos laboratórios da FCUP, onde a tecnologia está a ser desenvolvida. A procura de financiamento está a ser uma das dificuldades apontadas pelos investigadores.
"Ainda se pensa que a investigação se faz de uma forma gratuita. E isso não acontece. Neste tipo de projetos tecnológicos é preciso um grande investimento na matéria-prima que é utilizada para a produção destes dispositivos”, nota Clara.
Enquanto vencedora da oitava edição da Escola de Startups, a WeStoreOnTex será incubada no UPTEC. Com este projeto, a equipa conquistou ainda o terceiro lugar na edição de 2016 do iUP25k – Concurso de Ideias de Negócio da Universidade do Porto no início de junho. Durante o mesmo concurso, receberam o Prémio Best Energy Business, no valor de dois mil euros, patrocinado pela KIC InnoEnergy (empresa europeia focada na educação, inovação e criação de negócios na área da energia sustentável), no âmbito das melhores ideias nas áreas das Tecnologias da Informação e da Energia.
Para 2017, o grande objetivo dos três investigadores passa por conseguir colocar o produto no mercado. “As empresas da área têxtil e investidores têm sentido que os wearable e as tecnologias integradas no vestuário têm potencial para chegar ao mercado, pelo próprio contexto do nosso país, em que a área têxtil é muito importante”, nota Clara.
Notícia publicada no Observador.